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Na crise, consumidores recorrem à economia colaborativa para gastar menos

22 de fevereiro, 2016

Tribo Viva oferece produtos orgânicos a consumidores de Porto Alegre.

Mau momento econômico vira oportunidade para quem investe nesse modelo de consumo.

No cardápio da publicitária Juliana Toro, 40 anos, produtos orgânicos têm espaço garantido. Com o objetivo de manter uma alimentação saudável, ela consome frutas e legumes cultivados por pequenos produtores. Por meio da rede colaborativa Tribo Viva, encontrou uma maneira de colocar essa filosofia em prática. Criada em 2015, a startup estabelece uma ponte entre consumidores de Porto Alegre e pequenos produtores, evitando, assim, a atuação de atravessadores nos negócios, reduzindo o preço final.

— Os produtos são fresquinhos. O consumo colaborativo deve ser estimulado — diz Juliana.

Iniciativas como essa, que fazem parte da chamada economia colaborativa, têm se espalhado pelo Brasil nos últimos anos. E a crise econômica pode ser uma oportunidade para quem investe nesse modelo de consumo. Coordenador do portal Cidade Colaborativa, que mapeia iniciativas do tipo em São Paulo desde 2015, o publicitário Flavio Azevedo acredita que o mau momento econômico pode funcionar como um empurrão para o fortalecimento dos projetos.

— Nos Estados Unidos e na Europa, várias ações surgiram em 2008, que foi um momento difícil. A economia colaborativa é uma resposta para que se faça mais com menos — avalia.

No levantamento realizado na capital paulista pelo Cidade Colaborativa, que também poderá ser estendido para outras capitais — dentre elas, Porto Alegre —, inicialmente foram encontradas cem iniciativas em ramos como alimentação, hospedagem e mobilidade.

Para o economista Paulo Zawislak, que coordena o Núcleo de Gestão da Inovação Tecnológica (NITEC) da UFRGS, a criação de projetos na área da economia colaborativa está relacionada à “complexidade da vida moderna”. Assim, além de diminuir custos, podem trazer outros ganhos ao dia a dia em comunidade, como a redução de danos ambientais.

— A economia não é apenas o mundo da grana. Por isso, iniciativas colaborativas são possíveis e têm capacidade de resolver problemas — comenta.

De acordo com estudo do Instituto de Pesquisa e Opinião Pública Market Analysis, realizado em 2015, 20% dos brasileiros estão familiarizados com esse tipo de consumo. Após analisar as condições econômicas do país, a startup francesa BlaBlaCar, que conta com mais de 20 milhões de adeptos espalhados pelo mundo, resolveu estacionar no Brasil no último mês de dezembro. Surgida em 2006, a iniciativa estimula, por meio de seu site e aplicativo, viagens de carro compartilhadas.

Para participar, tanto motoristas quanto passageiros devem se cadastrar com seus perfis do Facebook nas plataformas digitais da empresa. A partir daí, podem buscar destinos comuns e dividir custos de deslocamento, estipulados pela BlaBlaCar, que não permite lucro ao dono do automóvel, ao contrário do que ocorre em serviços como o Uber.

— Devido a diferentes fatores, como a alta do dólar, pensamos que mais brasileiros farão viagens domésticas. A crise não afetará o nosso serviço — confia Ricardo Leite, diretor geral da BlaBlaCar no Brasil.

No site e no aplicativo da startup, é possível encontrar ofertas de caronas para viagens entre cidades gaúchas. O deslocamento de Porto Alegre a Caxias do Sul, por exemplo, sai por menos de R$ 20 por passageiro.

Inteligência ao uso de recursos

Para que o consumo compartilhado cresça no Brasil, o professor de Economia da Pós-Graduação da PUC-SP Ladislau Dowbor aposta em características que já estão presentes em projetos da área. Uma delas é a conexão formada entre consumidores, a custo zero, por meio da internet.

— O século passado tinha horror ao que era gratuito. Hoje, com iniciativas online, é possível acrescentar usuários sem gastos. A facilidade permite que a gente receba esses conteúdos. A economia colaborativa não aumenta o Produto Interno Bruto (PIB) de um país, mas acrescenta inteligência ao uso de recursos — salienta.

No entanto, conforme Paulo Zawislak, há empecilhos que precisam ser superados entre os consumidores. Dentre as dificuldades, na visão do economista, está a falta de confiança. A existência dessa barreira também é confirmada na pesquisa do Market Analysis. Segundo o levantamento, apenas 11% dos brasileiros acreditam poder confiar na “maioria” das pessoas do país.

— A gente ainda está engatinhando para viver como uma tribo colaborativa — observa Zawislak.

No site da Tribo Viva, é possível encontrar as ofertas de frutas e legumes disponíveis. Quando as encomendas alcançam um número de interessados que justifique o deslocamento dos agricultores até a Capital, os produtos são levados até o endereço de um consumidor que se candidatou a coordenador de entrega. Os compradores, por sua vez, devem ir até o local para retirar as mercadorias.

— Percebemos que as pessoas estavam gastando muito para comprar orgânicos. Criamos uma alternativa para o consumidor final e o produtor em Porto Alegre — explica o chef de cozinha Pietro Rocha, um dos fundadores da startup.

Foto: Carlos Macedo / Agencia RBS

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